De Bento XVI a Francisco I
Bento XVI renunciou. Os últimos
acontecimentos da Igreja católica com o pano de fundo da resignação do Papa
Bento XVI incitam, mais uma vez, o povo de Deus à profecia. Não interessará a
especulação com “profecias da desgraça”. A profecia só pode ser credível quando
parte de um ser humano de Deus que relê os acontecimentos, analisa-os,
interpela Deus, escuta-O e procura traduzir o que Ele pretende comunicar à
humanidade. É este o nosso objectivo ao pretendermos acompanhar o desenrolar
dos acontecimentos, procedendo a uma análise, à luz do Evangelho de Jesus
Cristo, de modo a retirar deles o que Deus quer transmitir e, com a Sua ajuda,
fazer o possível para promover e implementar acções que conduzam à
concretização do projecto de Deus – a Salvação da humanidade -.
Ao
longo da história do povo de Deus, sempre se verificou que Deus utiliza sinais
humanamente visíveis para mostrar o invisível. Deus ainda não mudou de método.
Para a vivência humana, a comunicação verbal, social, técnica e afectiva através
de sinais é imprescindível. Por isso Deus também usa sinais visíveis para a sua
comunicação.
Olhemos,
então, para os sinais últimos e procuremos perceber os acontecimentos e o que
deles se pode retirar como palavra de Deus para o mundo de hoje. Bento XVI é um
profeta: um homem de Deus que relê os acontecimentos, faz discernimento e
procura traduzir o que Deus pretende comunicar à humanidade. Podemos é não
saber se ele sempre teve força para comunicar o que Deus pretende.
A
propósito do sinal visível, relâmpago que, poucas horas depois do anúncio de
resignação de Bento XVI, caiu sobre a basílica de S. Pedro, no Vaticano, podemos
afirmar que na história do povo de Deus, têm ocorrido relâmpagos e trovões em
casos especiais de pré-aviso de que Deus fala. Temo-lo, por exemplo, no monte
Sinai, quando Deus vai transmitir os Mandamentos e, nos tempos de hoje, em
algumas aparições de Maria, quando se aproxima o momento de o transcendente
tocar a realidade do nosso tempo. Naquela hora, decerto que Deus falou a alguém
do Vaticano. Resta saber se o destinatário quis escutar. Pode ser que esse
interlocutor de Deus tenha coragem de transmitir ao mundo o que Deus disse à
Sua Igreja, naquela hora.
Olhando
para o caso da resignação que intriga muita gente, procuramos discernir as
causas para deduzir consequências futuras, sempre numa perspectiva que envolva
acção dinâmica, evangelizadora, onde o que importa é que tudo sirva para um
melhor encontro e caminhada com Cristo. As causas da resignação de Bento XVI
podem ser do foro íntimo e pessoal do próprio, relacionadas com saúde ou outros
valores, mas não deixa de estar em causa uma atitude eclesial. No entanto,
analisamos o que o próprio deixa transparecer e não tanto o que se diz, ou o que
muitos gostariam de ouvir. Nesta nossa análise vamos um pouco além,
limitando-nos, contudo, a reler a relacionar acontecimentos.
Comecemos
pela sua Declaração de renúncia, transmitida a 2013-02-11. Bento XVI reconhece
a gravidade da sua decisão: “Por isso,
bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que
renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro…” Considera
que, não tem forças para agir de outro modo, mas é grave o seu acto. Se é
grave, é para si e para a Igreja. Por quê tomar uma atitude grave sem procurar
alternativa melhor? A resposta parece tê-la dado ao referir: “Todavia, no mundo de hoje, sujeito a
rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé,
para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também
o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi
diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para
administrar bem o ministério que me foi confiado.” É, efectivamente,
necessária força física e moral. Será que Deus não lhe dava essa força ou, a
força contrária sobre-elevou-se?
Para
melhor se compreender este acontecimento debrucemo-nos sobre as suas palavras
na homilia de Quarta-Feira de Cinzas, no dia 2013-02-13. “Com efeito, também nos nossos dias, muitos estão prontos a «rasgarem
as vestes» diante de escândalos e injustiças – naturalmente cometidos por
outros – mas poucos parecem dispostos a actuar sobre o seu «coração», a sua
consciência e as próprias intenções, deixando que o Senhor transforme, renove e
converta.” O Papa dá o sinal de que existem muitos que gostam de dar nas
vistas, rasgando as suas vestes, se necessário, perante escândalos e
injustiças, julgando à maneira humana, mas esquecem-se de se converter e de
olhar para a misericórdia de Deus. Simultâneamente, buscam a sua glória neste
mundo, associada à hipocrisia religiosa. E refere que o próprio Cristo “denuncia a hipocrisia religiosa, o
comportamento que quer dar nas vistas, as atitudes que buscam o aplauso e a
aprovação. O verdadeiro discípulo não procura servir-se a si mesmo ou ao
«público», mas ao seu Senhor com simplicidade e generosidade… Então o nosso
testemunho será tanto mais incisivo quanto menos procurarmos a nossa glória,
cientes de que a recompensa do justo é o próprio Deus…” Bento XVI fala,
ainda, da falta de unidade no corpo eclesiástico, em que o rosto da Igreja
aparece, por vezes, deturpado; não é o rosto de Cristo: “Esta oração (dos sacerdotes) faz-nos reflectir sobre a importância que
tem o testemunho de fé e de vida cristã de cada um de nós e das nossas
comunidades para manifestar o rosto da Igreja; rosto este que, às vezes, fica
deturpado. Penso de modo particular nas culpas contra a unidade da Igreja, nas
divisões no corpo eclesial.”
Relacionando
as palavras de Bento XVI, voltemos a 20 de Dezembro de 2010, quando em discurso
por ocasião da troca de votos natalícios com a Cúria Romana, leu para os
cardeais e bispos, uma profecia de Santa Hildegarda de Bingen, reportando-a à
grave crise que hoje atinge à Igreja:
“Neste contexto, veio-me à mente uma visão
de Santa Hildegarda de Bingen, que descreve de modo impressionante o que
vivemos neste ano. «No ano de 1170 depois do nascimento de Cristo, estive
durante longo tempo doente na cama. Então, física e mentalmente acordada, vi
uma mulher de uma beleza tal que a mente humana não é capaz de compreender. A
sua figura erguia-se da terra até ao céu. O seu rosto brilhava com um esplendor
sublime. O seu olhar estava voltado para o céu. Trajava um vestido luminoso e
fulgurante de seda branca e uma manto guarnecido de pedras preciosas. Nos pés,
calçava sapatos de ónix. Mas o seu rosto estava salpicado de pó, o seu vestido
estava rasgado do lado direito. Também o manto perdera a sua beleza singular e
os seus sapatos estavam sujos por cima. Com voz alta e pesarosa, a mulher
gritou para o céu: “Escuta, ó céu: o meu rosto está manchado! Aflige-te, ó
terra: o meu vestido está rasgado! Treme, ó abismo: os meus sapatos estão
sujos!”
E
continuou: “Estava escondida no coração do Pai, até que o Filho do Homem,
concebido e dado à luz na virgindade, derramou o seu sangue. Com este sangue
por seu dote, tomou-me como sua esposa.
Os
estigmas do meu esposo mantêm-se em chaga fresca e aberta, enquanto se abrirem
as feridas dos pecados dos homens. Este facto de permanecerem abertas as
feridas de Cristo é precisamente por culpa dos sacerdotes. Estes rasgam o meu
vestido, porque são transgressores da Lei, do Evangelho e do seu dever
sacerdotal. Tiram o esplendor ao meu manto, porque descuidam totalmente os
preceitos que lhes são impostos. Sujam os meus sapatos, porque não caminham por
estradas direitas, isto é, pelas estradas duras e severas da justiça, nem dão
bom exemplo aos seus súbditos. Em alguns deles, porém, encontro o esplendor da
verdade”.
E
ouvi uma voz do céu que dizia: “Esta imagem representa a Igreja. Por isso, ó
ser humano que vês tudo isto e ouves as palavras de lamentação, anuncia-o aos
sacerdotes que estão destinados à guia e à instrução do povo de Deus,
tendo-lhes sido dito, como aos apóstolos: ‘Ide por todo o mundo e proclamai o
Evangelho a toda a criatura’ (Mc 16, 15)”» (Carta a Werner von Kirchheim e à sua comunidade sacerdotal: PL
197, 269ss).
Bento XVI
continuou: “Na visão de Santa Hildegarda,
o rosto da Igreja está coberto de pó, e foi assim que nós o vimos. O seu
vestido está rasgado, por culpa dos sacerdotes. Como ela o viu e expressou,
assim nós o vimos neste ano. Devemos acolher esta humilhação como uma exortação
à verdade e um apelo à renovação. Só a verdade salva. Devemos interrogar-nos
sobre o que podemos fazer para reparar o mais possível a injustiça sucedida…
Estamos cientes da particular gravidade deste pecado cometido por sacerdotes
e da responsabilidade que nos cabe.”
Que se passará
na Igreja?
Embora não
muito apologistas de profecias, já que Bento XVI trouxe à memória uma profecia
do séc. XII, podemos reavivar a profecia de La Salette, do séc. XIX (Mensagem
de Nossa Senhora de La Salette):
“Os sacerdotes, ministros de meu Filho, pela sua má vida, sua
irreverência e impiedade na celebração dos santos mistérios, pelo amor do
dinheiro, das honrarias e dos prazeres, tornaram-se cloacas de impureza”.
“Sim, os sacerdotes atraem a vingança e a vingança paira sobre suas cabeças. Ai dos sacerdotes e das pessoas consagradas a Deus, que pela sua infidelidade e má vida crucificam de novo meu Filho!”
“Os pecados das pessoas consagradas a Deus bradam ao Céu e clamam por vingança. E eis que a vingança está às suas portas, pois não se encontra mais uma pessoa a implorar misericórdia e perdão para o povo”.
“Os chefes, os condutores do povo de Deus negligenciaram a oração e a penitência. E o demônio obscureceu suas inteligências. Transformaram-se nessas estrelas errantes, que o velho diabo arrastará com sua cauda para fazê-las perecer”.
Noutra ocasião Bento XVI disse:
"Ver subitamente o sacerdócio tão conspurcado, e com ele também a própria Igreja Católica no seu íntimo, foi algo realmente duro de suportar. Mas foi necessário não perder de vista que existe o Bem na Igreja e não apenas estas coisas terríveis." (do livro "Luz do Mundo - O Papa e os Sinais dos Tempos")
“Sim, os sacerdotes atraem a vingança e a vingança paira sobre suas cabeças. Ai dos sacerdotes e das pessoas consagradas a Deus, que pela sua infidelidade e má vida crucificam de novo meu Filho!”
“Os pecados das pessoas consagradas a Deus bradam ao Céu e clamam por vingança. E eis que a vingança está às suas portas, pois não se encontra mais uma pessoa a implorar misericórdia e perdão para o povo”.
“Os chefes, os condutores do povo de Deus negligenciaram a oração e a penitência. E o demônio obscureceu suas inteligências. Transformaram-se nessas estrelas errantes, que o velho diabo arrastará com sua cauda para fazê-las perecer”.
Noutra ocasião Bento XVI disse:
"Ver subitamente o sacerdócio tão conspurcado, e com ele também a própria Igreja Católica no seu íntimo, foi algo realmente duro de suportar. Mas foi necessário não perder de vista que existe o Bem na Igreja e não apenas estas coisas terríveis." (do livro "Luz do Mundo - O Papa e os Sinais dos Tempos")
Todas estas
questões nos deixam perplexos. Não é que não se note a existência de uma Igreja
doente, mas, apesar de tudo, existe sempre fé e esperança quando se vislumbra a misericórdia de
Deus que dá sempre mais uma hipótese a quem quer regressar a Sua casa. Nos
tempos de hoje, mais do que nunca, temos Maria, a mãe da Igreja, que protege a
abraça os seus filhos. Esta Mãe que com avisos sucessivos, alerta os perigos e
dá conselhos para o seguimento do caminho certo o seu Filho, Jesus. Ela,
apercebendo-se dos grandes problemas da
Igreja, indirecta ou directamente diz (mesmo para quem não acredita nas suas
aparições em Medjugorje)
A 2
de Setembro de 2012, a Mirjana:
“Queridos filhos!
Aceitai a missão e não tenhais medo, Eu vos fortificarei. Encher-vos-ei
das Minhas graças. Pelo Meu amor, Eu vos protegerei do espírito do mal. Eu
estarei convosco. Pela Minha presença, consolar-vo-sei nos momentos difíceis.
Agradeço-vos por abrirdes os vossos coraçõess. Rezai pelos sacerdotes!
Rezai para que a unidade entre o Meu Filho e eles seja o mais forte
possível, e que se tornem Um.
A 17
de Agosto de 2012 a Ivan:
“Queridos
filhos, também hoje vos chamo a rezar pelos Meus sacerdotes – Meus filhos
bem-amados, rezai pelos bispos e pelo Santo Padre. Rezai, queridos filhos,
pelos Meus pastores, rezai mais do que nunca! A vossa Mãe reza convosco…”
Confiantes na
misericórdia e no amor de Deus rezemos para que se encontrem soluções para a
crise eclesiástica. Que cada um faça o discernimento dos sinais dos tempos,
denunciando, como Jesus e como diz Bento XVI, a hipocrisia religiosa, o
comportamento que quer dar nas vistas, as atitudes que buscam o aplauso e a
aprovação, pois é a qualidade e a verdade do relacionamento com Deus que
qualifica a autenticidade de cada gesto religioso.
Parece que com o relâmpago se fez luz para para que Francisco I avançasse. Esperamos que tenha força, capaz de fazer com que os pastores da Igreja vivam o Evangelho de Jesus: "Uma Igrja pobre e para os pobres."
Parece que com o relâmpago se fez luz para para que Francisco I avançasse. Esperamos que tenha força, capaz de fazer com que os pastores da Igreja vivam o Evangelho de Jesus: "Uma Igrja pobre e para os pobres."
Acácio Vasconcelos