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Ensinamento: "Jesus Cristo a Nossa Páscoa"

JESUS CRISTO A NOSSA PÁSCOA

(ENSINAMENTO PARA O GRUPO DE ORAÇÃO "BOA NOVA DO REINO", a 2011-04-20 (Resumo))



1.       Ressurreição ou Páscoa

Não podemos falar em Páscoa como se, apenas, de ressurreição de glorificação se tratasse.
A ressurreição, elemento central na História da Salvação, (tendo sido o eco das primeiras confissões da Igreja), com a paixão e morte de Cristo, constitui o Mistério pascal. O termo páscoa tem, pois, um sentido mais amplo do que ressurreição.
2.       Sofrimento de Jesus/Sofrimento de Deus

Ao falarmos de Mistério Pascal, ressalta a dor e o sofrimento de Jesus como algo paradoxal.
Deus fez-se homem assumindo a condição humana, inserindo-se na concreta situação histórica, social e cultural do seu tempo. Jesus aceita o sofrimento e a morte resultantes do facto de, como humano, estar sujeito à condição física humana e às complexas e ambíguas leis humanas.
Mas será que o Deus de amor, donde brota a eterna felicidade, pode sofrer? Como afirma Karl Rahner, Deus é impassível mas tem compaixão (“padece com”), por causa do amor. Jesus, homem, sofre porque é pessoa divina e humana. Então, podemos afirmar que Deus sofre em Jesus Cristo. Deus ama e quem ama sofre. Se Deus viesse ao mundo por uma outra forma e se fosse incapaz de sofrer também seria incapaz de amar. Logo, a paixão e morte de Jesus acredita o amor de Deus por toda a humanidade. Deus é mais do que solidário com toda a humanidade sofredora, Deus sofre com ela.
Na paixão e morte de Jesus, Deus quase que se esconde; é revelado o seu silêncio. Contrapondo com a expressão da sociedade humana – a injustiça, o ódio, a avareza – prevalece da parte de Deus o perdão, a misericórdia e todo o amor divino. Surge o inesperado, o impensável, como refere S. Paulo “Cristo crucificado escândalo para os judeus e loucura para os gentios.” (1 Cor 1,23). A força de Deus revela-se na fragilidade humana.
Jesus Cristo solidarizado, ou melhor, assumindo a vida dos pobres, dos injustiçados e marginalizados, dá o horizonte de esperança à humanidade com fé no Cristo ressuscitado. A Revelação acontece e dá ao homem a hipótese de descoberta das verdades salvíficas e da compreensão da própria vida e do seu próprio destino.

3.       Sentido da cruz

Sabe-se que o símbolo da cruz tem sido aproveitado para resignar as pessoas ao sofrimento originado, por vezes, por injustiças, por exploração e por dominação.
É preciso perceber o significado que a paixão e morte de Jesus têm para a nossa fé, procurando o sentido que Deus lhe quis dar.
O símbolo da cruz não pode ser transformado numa vulgar ideologia que o instrumentaliza par justificar situações de opressão, por meio do qual os ricos e os poderosos incutem nos pobres a submissão e a resignação, face às injustiças e adversidades, considerando o sofrimento como algo natural e desejado por Deus.
Todos nós conhecemos expressões como estas: “Esta é a cruz que Deus me deu.” Ou “Temos de carregar a nossa cruz”. Efectivamente Jesus Cristo carregou a cruz, não porque o desejasse, mas porque Deus feito homem quis experimentar e solidarizar-se com todo o ser humano, não se excluindo dos que vivem neste mundo de injustiçados e, em especial, dos mais pobres e sofredores.
A cruz não pode ser reduzida a um símbolo de expiação ou de reparação. Deus Pai de misericórdia, não podia aceitar a morte do Filho inocente (como no caso de Abraão) como resgate pelo pecado do culpado. A glória de Deus consiste na felicidade vivida no amor e não, em que o homem sofra e seja crucificado devido aos ultrajes da Sua honra.
Na sua debilidade e humildade, Jesus, na paixão, encerra em si o resultado da luta contra os dominadores e opressores, não só políticos como religiosos, ao mesmo tempo que condena as práticas de violência e de opressão. É um convite para a luta contra as causas produtoras da cruz.
A morte de Cristo significa, ainda, a renúncia ao poder (Cristo podia ter feito um milagre, livrando-se da paixão e, fazer-se rei dominante neste mundo); significa a clarificação da verdade, a defesa da justiça e demonstra a força do perdão e da misericórdia: “Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34) e, para o bom ladrão “Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43).
O poder de Deus é o amor. A paixão é a obra de Deus por excelência; é prelúdio para a ressurreição; é amor.

4.       Sacrifício/entrega

Jesus não procurou a morte, mas ela ocorreu pelo processo que se conhece porque Jesus não renegou o seu projecto. Certo é que, também, não se comprometeu com a situação para poder continuar a viver. Manteve-se fiel à sua verdade e, por isso, conferiu à sua morte o mesmo sentido dado à sua vida: Entrega total ao serviço do outro e ao Pai. Facilmente, percebemos que, para compreender o sentido da morte de Jesus, não se pode separar a paixão e morte da sua vida terrena, das suas obras, da sua palavra, bem como da ressurreição. Não se pode contar a morte e ressurreição sem olhar para a vida de Jesus.
A ressurreição é, sem dúvida, obra de Deus – o culminar da obra terrena de Jesus -. A morte, como faz parte da vida e é a passagem para a ressurreição. Por isso, não se nega que tanto a morte como a vida se incluem na obra de Deus.
Jesus não quis morrer — não é suicida — antes quis viver como Filho, ainda que isso implicasse a morte, em coerência: foi a forma de realizar o Reino que anunciou. A vida não é algo para se desfrutar em proveito próprio, mas é serviço aos outros. Portanto, para Jesus a redenção e a salvação dos homens não dependiam da sua morte. Dependiam, sim, da aceitação de Deus por Ele revelado e do viver coerente com o seu modo de vida: viver amando, viver para os outros.
A morte de Jesus não seria, por conseguinte, entendida por Ele como sacrifício expiatório ou como resgate. O homem não ficaria salvo só porque Jesus morreu por ele. Para se salvar o homem tem que agir de acordo com o agir de Cristo. “Toda a vida de Jesus é redentora. A morte é redentora na medida em que está dentro da Sua vida.” (Cf. Leonardo Boff, Paixão de Cristo Paixão do Mundo).
Considerar a morte de Jesus como sacrifício, não se coaduna com a imagem de Deus Pai que Jesus nos revelou. Deus ama e perdoa; não troca graças por sacrifícios.
A salvação não pode estar associada, simplesmente, com o sacrifício e com o derramamento de sangue. “Não se deve identificar “amor” com “sacrifício” reduzindo-os à unidade do mesmo conceito; nem, por conseguinte, se pode afirmar que Deus se agradou ou que tenha exigido o sacrifício do Seu Filho na cruz.” (Cf. Sinivaldo S. Tavares, Cruz de Jesus e o Sofrimento no Mundo).
No entanto, podemos afirmar que Jesus teria sido sacrifício mesmo sem morte de cruz; bastaria para isso a doação total que fez da sua vida e da sua morte ao outro, na realização da vontade do Pai e na entrega do que de humano é divino, ou seja na entrega das suas obras e das obras de amor dos humanos ao Pai.
O verdadeiro sacrifício que Deus pretende é a abertura para Ele e entrega filial e em liberdade do ser humano. O sentido é o empenho e a doação para o outro e para Deus; é o despojar-se de si mesmo para poder ser repleto da graça divina. E, neste sentido, Cristo foi sacrifício por excelência.
E assim, vemos Jesus preparado para ressuscitar, esvaziado e, totalmente entregue aos irmãos e ao Pai, - “Pai, nas tuas mãos entrego o Meu espírito” (Lc 23,46) e “Tudo está consumado” (Jo 19,30), confiante de que regressa plenitude de comunhão com o Pai.

5.       Morte e Ressurreição

Jesus não veio ao mundo com a missão de morrer por nós, mas para anunciar a Boa-Nova do Reino de Deus, na esperança de que todos a acolhessem e se convertessem. O objectivo central da sua pregação foi o anúncio do Reino. Mas, Reino direccionado para os pobres, marginalizados e oprimidos, isto é, para os que vivem de acordo com o Seu projecto de vida, é, efectivamente, o Reino do Deus de amor.
Jesus, em pessoa, é já a manifestação da presença do Reino de Deus no meio dos homens. O amor de Deus inunda a humanidade num acto de total entrega através do processo de humanização de Deus. E a cruz é o acto de comunhão de Deus com a humanidade. Jesus faz suas a dor e a ânsia da humanidade no silêncio de Deus. E, como acto de Deus é um acto de amor, exige do ser humano recíproco amor, pois quando se ama também se é amado.
Assim, o cristão não pode ficar pela pura contemplação da cruz.
Ao ir mais longe e olhar para o Crucificado que está vivo, verifica que há uma relação complementar e recíproca entre cruz e ressurreição.
A ressurreição acredita a divindade de Jesus e confirma a sua mensagem, permitindo redescobrir a vida de Jesus como Boa-Nova. Logo, não podemos deixar de olhar para a vida total de Jesus, que inclui a paixão, morte e ressurreição, como revelação de Deus, redenção e salvação já presentes na humanidade.
E o que é a ressurreição?
Ressurreição não é o readquirir uma vida perdida. Ressurreição é o incorporar da realidade humana na vida divina. Ela não é tudo, por si só, mas põe tudo em movimento; funda objectivamente o cristianismo; faz nascer a Igreja. A ressurreição de Cristo revela Deus como Deus dos vivos e o homem como criatura destinada a partilhar a sua vida eterna.
Para nós, humanos, a ressurreição mostrou que viver de acordo com a carta das bem-aventuranças e morrer pela verdade e pela justiça não é sem sentido, visto que Cristo fez essa experiência de vida, sendo humilde, pobre, perseguido, condenado injustamente e, assim, foi ressuscitado pelo Pai. Por isso, adquirimos coragem e esperança para, neste mundo atribulado e de sofrimento, viver a liberdade de filhos de Deus sem estar subjugados às forças da morte.
Deus encarnou para se revelar e dizer que a salvação é a reintegração da humanidade no criador, numa comunhão de amor com a Trindade. Para essa comunhão é necessária uma auto-doação livre do homem. A vida humana tem de se abrir à comunhão, tem de morrer para si mesma e ser consumida para o outro, de modo a que se realize no outro para uma comunhão de todos por Cristo, com Cristo e em Cristo na Trindade. É isto a vida sacrificial, a vida realizada no outro. Não é sacrifício de expiação; é doação, é partilha, é comunhão de amor e participação no Reino e na vida do Deus de amor, nosso Pai. Assim acontece salvação.

6.       Conclusões

A salvação é projecto de Deus para toda a humanidade e a glória de Deus será plena quando todos se salvarem; quando todos forem “um” como o Filho é “um” com o Pai. Portanto, a salvação não vem para cada um isoladamente, vem para todos porque só existirá com todos em Cristo.
Antes de olharmos, exclusivamente, para a divinização, que é o objectivo último, temos que pensar na vida terrena que é componente humana. O mundo melhor só existirá se o homem for cada vez mais ele mesmo, isto é quando o homem perceber quem é Jesus e quem é ele próprio: quando se reconhecer filho de Deus, homem de verdade, de justiça e de amor. “Deus não encarnou em Jesus de Nazaré apenas para divinizar o homem, mas também para hominizá-lo e humanizá-lo” (Cf. Leonardo Boff, Paixão de Cristo Paixão do Mundo).
Deus quer que vivamos neste mundo participando, já, do Seu Reino.
Deus introduz na paixão de Cristo uma forma de amor em que se propõe assumir a dor e a morte. Amor só acontece entre duas liberdades que se encontram e pretendem felicidade e não dor. Portanto não podemos associar o Deus de amor aos mecanismos geradores do sofrimento. Se Deus fosse cruz, Jesus teria revelado essa face. A cruz é o lugar onde o ódio é destruído pelo amor, pelo perdão e pela misericórdia. Aí se mostra o poder do amor.
Deus não quer a dor, não é sádico. Ele quer que lutemos contra a dor e partilha do sofrimento dos injustiçados como Jesus na paixão. Ao assumir a condição humana em todas as dimensões até à morte, até partilhou a experiência de se sentir abandonado por Deus: “Elli, Elli, lema sabacthan? Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?” (Mt 27,46).
Deus parece ausente na cruz deixando o Seu amado Filho na agonia até à morte. Parece ausente, mas está lá porque o seu plano salvífico está a concretizar-se, embora de forma tão dramática e paradoxal. Segundo a lógica humana é escândalo, porque nós, de acordo com a razão, procuramos as causas da dor e as razões do mal. Se, humanamente, nem tudo vislumbramos nas trevas da cruz é porque ela é consequência do mistério da encarnação e passagem para a ressurreição, onde a plenitude de vida divina acontece. As nossas limitações humanas não nos permitem ver tudo o que é divino, só alcançamos o que do divino Cristo humanizou.
Cristo ressuscitado está tão próximo de nós hoje como esteve dos discípulos na manhã de Páscoa. O encontro com ele tem lugar a partir da vida da comunidade, da Igreja, que vê, vive e convive com o Ressuscitado, porque possui o Espírito do Ressuscitado.
É com Jesus que entramos no Reino dos Céus; é no agir de Jesus (vida, paixão e morte) que nos esvaziamos e entregamos nas mãos do Pai, a fim de com Ele sermos ressuscitados e participantes da vida e felicidade eternas para glória de Deus Pai.
A paixão do mundo é a paixão de Jesus (Ver Mt 26, 14-27, 66). Podemos encontrar, neste mundo, tantos casos da paixão de Jesus:
- Quantos “Judas” procuram oportunidades para entregar o ser humano aos tribunais da injustiça dos poderes das organizações deste mundo?
- Multidões que se levantam dizendo apoiar direitos humanitários, mas que, logo a seguir, condenam e rejeitam o direito à vida e dignidade de qualquer um.
- Quantos há que se escandalizam com a fome e com a violência, mas, quando elas lhe batem à porta, assistem, simplesmente, como se nada tivessem a ver com isso?
- Quantos “Pedros” surgem de “armas em punho”, como arautos da verdade, mas quando se sentem apertados escondem-se e fogem?
- Outros, que à sombra das religiões procuram argumentos falsos para testemunharem contra os seguidores de Jesus Cristo.
- E homens do poder que lavam as suas mãos das injustiças que cometem, das atrocidades, dos roubos que praticam e que tapam com as suas capas. Que preferem deixar “Barrabases” à solta, praticando todas as pilhagens aos mais pobres e calam os defensores da verdade e da justiça.
- Neste mundo, onde há muitas cruzes, quantos “Simão de Cirene” são chamados para ajudar outros a levar as suas cruzes, mas só o fazem porque são obrigados.
- E as multidões que assistem, impávidas, a todas as violações de direitos e de dignidade humanas, ou até incentivam e aclamam tais crimes.
- Até mesmo prevaricadores, criminosos e ladrões, ao serem julgados, insultam réus inocentes e prejudicados com os seus crimes.
- Quantos ditos seguidores de Jesus Cristo, vão observando de longe a paixão deste mundo, temerosamente despercebidos e, quando o controle da situação lhes escapa, depressa desaparecem “com o rabinho entre as pernas”.
- Apesar de tudo, alguns (são as mulheres da Galileia e um outro discípulo José de Arimateia que tomaram conta do corpo de Jesus morto) aproximam-se procurando soluções para os corpos humanos pobres, marginalizados e injustiçados.
- Mas, ainda mais, depois de seres humanos estarem aniquilados, envelhecidos, doentes, quando as forças estão esgotadas pela luta da vida, são “acorrentados” com o sepulcro guardado, em lares, (sugestão dos príncipes dos sacerdotes e fariseus) para que, não aconteça poderem, ainda, escandalizar alguém com o seu exemplo e com os seus conselhos.
Resta-nos a esperança de que Jesus Cristo partilha connosco a paixão do mundo e garante-nos a ressurreição. Jesus Cristo é a nossa Páscoa: vida, paixão, morte e ressurreição.



Azambuja, 20 de Abril de 2011
Diác. Acácio Vasconcelos